
Por Nicholas Meira
O turnover, ou a rotatividade de funcionários dentro de uma empresa, é um fenômeno que pode gerar impactos significativos em diversos aspectos organizacionais. Estudos apontam que a taxa média de turnover nas empresas pode variar entre 10% e 20% ao ano, dependendo do setor e do país. De acordo com uma pesquisa da Gallup, o custo médio para substituir um funcionário pode variar de 50% a 200% do seu salário anual, considerando despesas com recrutamento, treinamento e perda de produtividade. Dados da Society for Human Resource Management (SHRM) também indicam que a insatisfação com a cultura organizacional e a falta de oportunidades de crescimento são fatores determinantes para pedidos de demissão.
Diante desses números, fica evidente que o turnover não é apenas uma questão de substituição de funcionários, mas sim um desafio estratégico que pode comprometer a sustentabilidade da empresa a longo prazo. Desde prejuízos financeiros até problemas culturais, a alta rotatividade afeta diretamente o desempenho das equipes e a estabilidade da organização. Além disso, encontrar maneiras de minimizar o turnover é essencial para garantir a retenção de talentos e o crescimento sustentável da empresa.
Impacto na Cultura Organizacional
A cultura organizacional é um dos pilares do sucesso empresarial, pois influencia diretamente o engajamento, a produtividade e a satisfação dos funcionários. Quando o turnover é elevado, há uma constante quebra na continuidade da cultura interna, dificultando a criação de um ambiente coeso e alinhado com os valores da empresa. Funcionários que permanecem na organização podem sentir-se desmotivados ao ver colegas deixando a empresa com frequência, o que pode afetar o moral da equipe e a percepção sobre a segurança do emprego.
Além disso, a alta rotatividade impacta a construção de um senso de pertencimento. Funcionários que veem uma grande movimentação de entrada e saída de colegas podem ter dificuldades em criar vínculos sólidos e produtivos, prejudicando a colaboração e a sinergia entre equipes. A falta de estabilidade nos times também pode comprometer a efetividade dos projetos, pois há uma perda de conhecimento tácito e adaptação constante a novos colaboradores.
Impacto Financeiro do Turnover
Os custos financeiros relacionados ao turnover são expressivos e podem comprometer significativamente o orçamento de uma empresa. Esses custos incluem:
- Processo de recrutamento e seleção: Cada nova contratação demanda um investimento considerável em anúncios de vagas, triagem de currículos, entrevistas e testes. Esse processo pode ser longo e custoso, especialmente para posições especializadas.
- Treinamento e adaptação: Novos funcionários precisam de tempo para se adaptar à cultura da empresa, às ferramentas utilizadas e aos processos internos. Durante esse período de aprendizado, a produtividade tende a ser menor, impactando a eficiência operacional.
- Perda de conhecimento e experiência: Quando um profissional deixa a empresa, ele leva consigo conhecimento adquirido ao longo do tempo. Mesmo que existam processos de documentação, a experiência prática muitas vezes não pode ser transferida de maneira imediata, o que pode levar a falhas e retrabalho.
- Impacto na produtividade: Equipes que lidam constantemente com mudanças no quadro de funcionários podem sofrer uma queda na produtividade, pois precisam redistribuir tarefas, treinar novos colegas e lidar com a sobrecarga de trabalho temporária.
Além desses impactos diretos, há também custos indiretos, como a possível deterioração da imagem da empresa no mercado de trabalho. Empresas com altos índices de turnover podem ter dificuldades em atrair novos talentos, pois a percepção de instabilidade e insatisfação pode afastar candidatos qualificados.
Impacto do Turnover na Implementação da Reforma Tributária
A implementação da reforma tributária nas empresas exige planejamento, conhecimento técnico e adaptação a novas regras e procedimentos. A alta rotatividade pode dificultar esse processo, pois a saída constante de profissionais especializados em tributação pode levar à perda de conhecimento essencial para a transição para o novo modelo tributário. Além disso, a necessidade de treinar continuamente novos funcionários sobre as mudanças na legislação pode aumentar os custos operacionais e reduzir a eficiência do processo.
Outro aspecto importante é a falta de continuidade nos times responsáveis pela implementação da reforma. Se os profissionais encarregados da adaptação das práticas fiscais e contábeis deixam a empresa no meio do processo, a organização pode enfrentar dificuldades para garantir a conformidade com as novas regras, além de riscos de erros e inconsistências que podem resultar em penalidades fiscais.
Por isso, a retenção de talentos na área tributária torna-se ainda mais estratégica nesse período. Empresas que investem em um ambiente de trabalho estável e na valorização dos profissionais especializados em finanças e tributos podem ter uma transição mais suave e eficiente para as novas exigências fiscais.
Outros Impactos do Turnover
Além dos aspectos culturais e financeiros, o turnover pode gerar outros problemas para a empresa, como a perda de clientes devido à falta de continuidade no atendimento. Se um cliente estabelece um relacionamento com um funcionário e esse profissional deixa a empresa, pode haver um impacto negativo na percepção de qualidade do serviço ou produto oferecido.
Outro fator relevante é o impacto emocional nos funcionários que permanecem. O excesso de rotatividade pode gerar insegurança e falta de perspectiva de crescimento, aumentando o nível de estresse e prejudicando a saúde mental dos colaboradores. A longo prazo, isso pode levar a um ambiente de trabalho tóxico e a uma nova onda de desligamentos.
Como Reduzir o Turnover nas Empresas
Reduzir o turnover requer uma abordagem estratégica e multifacetada, que envolva melhorias na gestão, nas condições de trabalho e na valorização dos funcionários (os tão conhecidos “reconhecimento e recompensa”). Algumas medidas eficazes incluem:
- Remuneração e benefícios competitivos: Muitas vezes, funcionários deixam a empresa por melhores propostas financeiras. Garantir que a empresa ofereça salários compatíveis com o mercado e benefícios atrativos pode reduzir essa motivação para a saída. Neste caso específico, é extremamente importante entender se a remuneração está adequada não apenas ao cargo que a pessoa ocupa, mas também à localidade em que está alocada. Quanto recebe um coordenador tributário lotado em Santa Catarina? Quanto recebe este mesmo coordenador em São Paulo? Certamente há uma discrepância de salários entre as localidades, portanto, transferir este colaborador de SC para SP, mesmo que com uma ajuda de custo, pode fazer com que em um curto espaço de tempo este funcionário opte por trocar de emprego para outra empresa, em SP, recebendo uma remuneração superior.
- Melhoria na cultura organizacional: Criar um ambiente de trabalho saudável, inclusivo e motivador é essencial para a retenção de talentos. Incentivar o reconhecimento, proporcionar oportunidades de crescimento e promover um clima organizacional positivo são estratégias fundamentais.
- Investimento em desenvolvimento profissional: Oferecer treinamentos, planos de carreira e oportunidades de capacitação demonstra o compromisso da empresa com o crescimento de seus funcionários. Isso aumenta o engajamento e reduz a vontade de buscar oportunidades externas.
- Ferramentas e tecnologia adequadas: Um ambiente de trabalho que oferece ferramentas eficientes e tecnologia atualizada contribui para a satisfação dos funcionários. Equipamentos ultrapassados e processos burocráticos podem gerar frustração e influenciar a decisão de saída.
- Liderança eficaz: Gestores e líderes desempenham um papel crucial na retenção de talentos. Uma liderança que promove a comunicação clara, o respeito e a valorização do trabalho dos funcionários cria um ambiente de confiança e estabilidade. Quem não conhece aquela máxima de que grande parte dos pedidos de demissão ocorrem devido à liderança das pessoas e não devido à empresa?
- Flexibilidade e bem-estar: Modelos de trabalho flexíveis, como o home office ou o trabalho híbrido, podem contribuir para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Além disso, ações voltadas para a saúde mental e o bem-estar dos colaboradores demonstram o cuidado da empresa com sua equipe.
Reduzir o turnover exige um esforço contínuo e um olhar atento para as necessidades e expectativas dos funcionários. Empresas que investem na valorização de seus talentos colhem benefícios a longo prazo, como maior produtividade, melhor reputação no mercado e um ambiente de trabalho mais saudável e eficiente.
Com base em todo o exposto, finalizo este artigo com um questionamento: O que lhe retém em seu atual emprego/posição? O tão almejado pelas empresas selo Great Place to Work – GPTW, a remuneração, o reconhecimento ou algo diferente?
Nicholas Meira é gestor de tributos na Philip Morris Brasil e presidente na Comunidade Power Tax Brasil, uma comunidade tributária com mais 150 tributaristas, que representam mais de 80 empresas de diversos segmentos de mercado.
Os artigos escritos pelos “colunistas” não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.