Uma transformação que exige gestão de riscos e estratégia empresarial

Empresas podem contar com tecnologia para reduzir tempo gasto. Foto: Freepik.

Por Marcela Guizo

A reforma tributária sobre o consumo representa uma das maiores mudanças no sistema fiscal brasileiro das últimas décadas. Sua implementação trará impactos significativos para as empresas, exigindo uma abordagem estratégica e estruturada. Mais do que uma simples alteração legislativa, essa transformação deve ser encarada como uma gestão de risco, dada a complexidade e os desafios envolvidos na transição entre dois modelos tributários distintos que coexistirão por um período.

Diante desse cenário, as empresas precisarão repensar suas operações de forma holística. A reforma não se limita ao departamento fiscal, mas demanda o envolvimento de diversas áreas da organização, como tecnologia, compliance, finanças e jurídico. Quatro pilares essenciais emergem como vetores dessa mudança: dados, tecnologia, processos e pessoas. Esses elementos serão fundamentais para garantir uma adaptação eficiente e minimizar impactos negativos no desempenho dos negócios.

Com o apoio de soluções tecnológicas inovadoras e análises preditivas, as empresas podem mapear riscos, simular cenários e estruturar estratégias para a nova realidade tributária. Mas a pergunta central permanece: sua empresa está preparada para essa transição? A gestão eficiente desse processo pode ser o diferencial entre navegar com segurança pelas mudanças ou enfrentar dificuldades operacionais e financeiras no novo ambiente tributário.

Impactos Setoriais e Estratégias Empresariais

O impacto do novo sistema tributário não será uniforme para todas as empresas. Ele variará de acordo com o segmento de atuação e a posição de cada elo na cadeia produtiva, exigindo ajustes estratégicos e operacionais adaptados à realidade de cada organização. Entre os principais pontos que devem ser analisados, destacam-se:

  • A perda gradual dos incentivos fiscais, contraposta aos possíveis ganhos de eficiência logística e operacional decorrentes da relocalização de operações;
  • Alterações nos preços de venda, considerando a elasticidade da demanda e os impactos na margem de fornecedores e clientes em cadeias B2B;
  • Otimização de custos e fluxos logísticos, especialmente no transporte de cargas;
  • Ganhos de sinergia resultantes da integração de operações e da redução do número de entidades jurídicas dentro de um mesmo grupo econômico.

Esses fatores tornam essencial a antecipação dos impactos econômicos e competitivos da reforma. Empresas que não se prepararem adequadamente poderão enfrentar desafios significativos, como perda de mercado, redução da margem de lucro e dificuldades na adaptação às novas exigências regulatórias.

Além disso, a reconfiguração do ambiente concorrencial pode abrir espaço para novos entrantes e remodelar as relações de mercado, tornando a análise preditiva um diferencial estratégico. A avaliação criteriosa das novas alíquotas efetivas e seus efeitos na demanda dos consumidores será crucial para garantir a sustentabilidade financeira e a competitividade dos negócios.

A Reforma Tributária como Vantagem Competitiva

A reforma tributária deve ser encarada não apenas como um desafio regulatório, mas como uma oportunidade de diferenciação estratégica. Empresas que adotarem uma abordagem proativa poderão estabelecer vantagens competitivas tanto no mercado doméstico quanto no internacional.

Para que isso ocorra, a transição deve ser pautada por uma gestão de riscos eficiente, convertendo desafios em oportunidades. O uso de tecnologia e a análise integrada de dados serão fundamentais para transformar esse processo disruptivo em uma poderosa alavanca de valor para os negócios.

Dentre as reflexões estratégicas que devem nortear essa adaptação, destacam-se:

  • Mensuração dos impactos fiscais com uso eficiente de dados e tecnologia;
  • Análise de impactos específicos por segmento e mercado de atuação;
  • Avaliação da viabilidade do business case no contexto da reforma;
  • Consideração da reforma como um novo fator no espectro de riscos e oportunidades empresariais;
  • Estratégias de precificação e seus impactos sobre a demanda;
  • Revisão e renegociação de contratos e acordos comerciais;
  • Reconfiguração logística e de distribuição;
  • Análise dos efeitos sobre fornecedores e suprimentos;
  • Avaliação e definição da forma mais adequada para a transição de estruturas baseadas em benefícios fiscais para o novo regime tributário.

Conclusão

A reforma tributária sobre o consumo não deve ser vista apenas como um desafio regulatório, mas como um elemento central na estratégia das empresas nos próximos anos. Sua complexidade, abrangência e relevância exigem que o tema permaneça na pauta dos Conselhos e do C-Level, garantindo que as decisões sejam tomadas com visão de longo prazo e alinhadas às novas dinâmicas do mercado.

Empresas de adotarem uma postura estratégica, utilizando tecnologia e análise de prognóstico para antecipar impactos e ajustar suas operações, estarão mais bem posicionadas para extrair valor dessa transformação. A reforma pode, sim, ser uma oportunidade para modernizar processos, fortalecer a governança e estabelecer uma posição de destaque no novo cenário tributário e econômico do Brasil.

Diante desse contexto, o questionamento que se impõe é: sua empresa está preparada para essa mudança? A antecipação e a estratégia definirão quem liderará essa nova era e quem ficará para trás.


Marcela Guizo tributarista com mais de 12 anos de experiência na área fiscal e tributária. Passou por PwC e participa do Mulheres no Tributário. Graduada em Ciências Contábeis, possui MBA em Gestão de Negócios pela USP/Esalq e MBA em Big Data & Analytics pela FIAP.


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