Reforma tributária ou reforma do negócio?

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Foto: Dylan Gillis via Unsplash

Por Nicholas Meira

Quando falamos em Reforma Tributária, o primeiro instinto é pensar em tributos. Afinal, é uma reforma que mexe diretamente na maneira como impostos e contribuições são cobrados, arrecadados e distribuídos. Mas a verdade é que essa mudança trazida pela reforma tributária vai muito além da esfera fiscal: ela impacta o modelo de negócio como um todo.

Imagine uma empresa que hoje precifica seus produtos ou serviços considerando o regime tributário atual. Com a nova sistemática, essa precificação precisará ser revisada. Agora, adicione a isso uma possível (e talvez provável) realocação dos centros de distribuição da empresa devido às mudanças na arrecadação do IBS e CBS. Some também a necessidade de revisão de contratos para ajustar novas obrigações fiscais/tributárias e como vivemos no Brasil, some também os riscos. Ah, e não podemos esquecer do split payment, que afetará diretamente o fluxo de caixa e a saúde financeira da empresa. Percebe como a discussão se expande para fora da área tributária?

Além disso, a tecnologia terá um papel crucial na adaptação a essa nova realidade. As empresas precisarão investir em sistemas que permitam um acompanhamento mais detalhado das alíquotas e regras tributárias em diferentes estados e municípios. Softwares de gestão tributária e automação fiscal se tornarão ainda mais indispensáveis para evitar erros e garantir o compliance.

Outro ponto que merece atenção é a capacitação das equipes. A complexidade da transição exigirá que profissionais de diversas áreas da empresa estejam preparados para lidar com as mudanças. Isso inclui treinamentos sobre as novas regras, simulações financeiras para prever impactos e uma maior integração entre os departamentos jurídico, contábil e comercial.

O tributarista, portanto, assume um papel de protagonista neste momento, mas precisa ter consciência de que esse é um trabalho que transcende sua área de atuação. A Reforma Tributária é um desafio multifuncional e exige a participação de diversas áreas da empresa: financeiro, logística, comercial, supply chain, compras, estratégia e por aí vai. Nosso papel é conectar esses pontos, traduzir o linguajar técnico, adaptar o discurso de uma forma de fácil compreensão e garantir que o negócio esteja preparado para as novas regras do jogo, que inicia logo!

E é aqui que entram algumas habilidades essenciais para o profissional tributário da nova era:

  • Comunicação: saber explicar cenários complexos de forma clara e acessível para diferentes stakeholders, adaptando o discurso para uma forma de fácil compreensão. Chega de ser o “chato” da legislação! Precisamos ser a pessoa que traduz a legislação para o negócio!
  • Adaptabilidade: o mercado e a legislação estão em constante evolução; é preciso estar pronto para recalcular a rota sempre que necessário, obviamente, sempre estudando os novos temas que certamente virão.
  • Resiliência: os desafios virão, e a capacidade de lidar com pressão e incertezas é um diferencial que fará com que os profissionais da área de impostos saiam na frente.
  • Entender de sistemas: Estar atento às novas ferramentas e quais se adaptam melhor aos padrões da empresa é fundamental, principalmente neste momento de transição onde as projeções mudarão a cada instante. 
  • Visão holística do negócio: entender não só tributos, mas toda a cadeia operacional e estratégica da empresa será importantíssimo!
  • Pensamento estratégico: antecipar desafios e propor soluções proativas que garantam vantagens competitivas ao negócio.
  • Capacidade analítica: interpretar dados e relatórios financeiros para tomar decisões embasadas na nova realidade tributária. É o famoso “tomar decisões embasadas em dados”!.

A verdadeira transformação com a Reforma Tributária não está apenas nos códigos legais, mas na forma como as empresas irão se reinventar diante desse novo cenário. E cabe a nós, tributaristas, liderar essa discussão, trazendo conhecimento, estratégia e segurança para atravessar essa mudança com cautela e sucesso.

Diante desse cenário, a tomada de decisões precisará ser ainda mais criteriosa. As empresas que conseguirem se antecipar às mudanças e estruturarem uma governança tributária eficiente sairão na frente. Isso exige um olhar atento para oportunidades de otimização fiscal, além de uma postura mais estratégica e inovadora.

Então, a questão que deixo aqui para vocês é: você e sua equipe estão prontos para essa nova fase? Já sabem a quem recorrer e quem precisa participar da discussão dentro da sua empresa? Porque a Reforma Tributária já começou. E ela não é só sobre tributos!


Nicholas Meira é gestor de tributos na Philip Morris Brasil e presidente na Comunidade Power Tax Brasil, uma comunidade tributária com mais 150 tributaristas, que representam mais de 80 empresas de diversos segmentos de mercado.


Os artigos escritos pelos “colunistas” não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.