Por Karen Miura
A reforma tributária no Brasil é uma pauta crucial que vem sendo discutida com o objetivo de simplificar o sistema tributário e torná-lo mais eficiente. No entanto, em um cenário cada vez mais digital e dinâmico, é essencial incorporar inovações tecnológicas para garantir que essas mudanças sejam sustentáveis e impactem positivamente a economia. Uma dessas abordagens é o uso da inovação orientada por previsões, conhecida como Foresight-Driven Innovation, ou FDI.
Inovação orientada por previsões: o FDI como ferramenta de transformação
De acordo com o Instituto de Estudos do Futuro de Copenhague (Copenhagen Institute for Futures Studies – CIFS – How organizations can connect innovation with foresight | World Economic Forum (weforum.org)), a Foresight-Driven Innovation é uma abordagem que conecta inovação com previsões futuras, permitindo que empresas e governos antecipem tendências e tomem decisões mais assertivas. O conceito foi criado para ajudar organizações a saírem do ciclo de inovações incrementais e se engajarem em mudanças profundas e transformadoras.
Quando aplicada à reforma tributária, essa abordagem de inovação preditiva pode ser um catalisador poderoso. Por exemplo, tecnologias como a inteligência artificial (IA) e o blockchain podem prever e analisar padrões fiscais, antecipar fraudes, sugerir otimizações e automatizar processos burocráticos. O uso dessas tecnologias torna o sistema tributário mais transparente e eficiente, além de garantir uma melhor alocação de recursos públicos.
A utilização de IA e blockchain na previsão e inovação tributária
A inteligência artificial já está sendo usada em diversas áreas, desde o desenvolvimento de produtos até a prestação de serviços (World Economic Forum. (2023). 3 Work Trends: Foresight-Driven Innovation and Digital Transformation. WEF Newsletter. – (4) 3 Work Trends – Issue 37 | LinkedIn). No contexto da reforma tributária, a IA pode desempenhar um papel fundamental ao analisar grandes volumes de dados fiscais e prever o comportamento do contribuinte. Isso permite que o governo e as empresas façam previsões mais precisas sobre a arrecadação de impostos e identifiquem áreas de possível evasão fiscal antes mesmo de se tornarem um problema significativo.
O blockchain, por sua vez, pode ser utilizado para criar sistemas de contabilidade imutáveis e transparentes, garantindo que todas as transações sejam rastreáveis e verificáveis. Além de facilitar o compliance tributário, o blockchain pode trazer uma nova era de confiança entre contribuintes e o governo, ao eliminar intermediários e garantir a integridade dos dados fiscais.
Reforma tributária baseada em previsão e inovação
Ao adotar o modelo FDI, o Brasil pode explorar o potencial de previsões tecnológicas para criar um sistema tributário mais adaptado às exigências da nova economia digital. Isso significa que, ao invés de focar apenas em mudanças legislativas e administrativas, a reforma pode abraçar tecnologias emergentes que antecipem os desafios futuros.
A implementação de ferramentas de predição permitirá que o governo planeje com mais precisão, identificando quais setores da economia são mais suscetíveis a mudanças tecnológicas, como a adoção de moedas digitais (CBDCs) para pagamento de tributos ou o uso de smart contracts para automatizar e garantir o cumprimento de obrigações fiscais.
Além disso, ao conectar a inovação com a previsão, o país estará mais preparado para enfrentar as demandas do mercado global, facilitando o comércio exterior, atraindo investimentos e garantindo que o sistema tributário brasileiro seja competitivo em um mundo cada vez mais digitalizado.
Conclusão
A inovação orientada por previsões (FDI) é uma abordagem estratégica que pode transformar a maneira como a reforma tributária é conduzida no Brasil. Ao adotar tecnologias emergentes como IA e blockchain (Swan, M. (2015). Blockchain: Blueprint for a New Economy. O’Reilly Media.), o país pode antecipar desafios, garantir maior eficiência no sistema tributário e, mais importante, criar um ambiente econômico que promove a inovação e o crescimento sustentável. Assim como nas tendências globais discutidas pelo Fórum Econômico Mundial, o futuro do trabalho, da educação e, consequentemente, da tributação, está diretamente ligado à capacidade de inovação conectada à previsão. A diferença entre uma empresa com profissionais aptos a traduzir e produzir e operar previsões e uma sem esses profissionais “interlocutores” será determinante para a sobrevivência no novo mercado que se aproxima.
Karen Miura atua como CFO (Chief Future and Financial Officer), CVO (Chief Visionary Officer) e Conselheira Consultiva de Startups para Futuro e Inovação. Lidera o Squad da reforma tributária da W-CFO.
Os artigos escritos pelos “colunistas” não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.
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