O Brasil não suporta mais uma carga tributária tão alta, diz Rafael Cervone

Executivo alerta para que a reforma não amplie "puxadinhos" e penalize o setor industrial
Rafael Cervone
Rafael Cervone
Rafael Cervone representa cerca de 8 mil indústrias associadas e 42 regionais e distritais em todo o Estado de São Paulo – Foto via Ciesp

Por Douglas Rodrigues

O presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Rafael Cervone, defende o avanço da reforma tributária, mas alerta para o risco de a regulamentação comprometer os objetivos principais da mudança, especialmente no que diz respeito às alíquotas do novo tributo.

Cervone destacou que o objetivo da reforma deve ser a simplificação e redução de custos. O texto está em debate no Senado, onde vários setores pedem para serem benefícios com as alíquotas.

“A essência da reforma tributária é acabar com os puxadinhos. Se tivermos apenas duas exceções, como o Simples Nacional e a Zona Franca de Manaus, poderíamos ter um IVA [Imposto sobre Valor Agregado] de 19,5% a 20%. Mas já estamos ouvindo falar de alíquotas que podem chegar a 27% ou até 30%. Estamos perdendo o bonde da história”, disse Cervone ao Portal.

Cervone destacou que o objetivo da reforma deve ser a simplificação e redução de custos, mas alertou para o aumento das alíquotas.

O executivo revelou alguns números do segmento industrial: um terço da arrecadação está nas mãos da indústria. “Se você não sabe ainda o que o Brasil deseja da indústria, cuidado, porque você pode matar a galinha dos ovos de ouro”, afirmou.

Olhando para frente, o setor convive com um grande desafio. De um lado, uma “carga brutal”, nas palavras de Cervone. De outro, um governo querendo arrecadar cada vez mais. “Nós estamos com um recorde de rombos estatais esse ano, o governo não fecha as contas e ainda quer tributar. O Brasil não suporta mais uma carga tão alta. Nós não vamos voltar a crescer se nós tivermos uma carga assim tão alta”, declarou.

O executivo revelou alguns números do segmento industrial: um terço da arrecadação está nas mãos da indústria. “Se você não sabe ainda o que o Brasil deseja da indústria, cuidado, porque você pode matar a galinha dos ovos de ouro”, afirmou.

Cervone citou alguns dados para mostrar a relevância da indústria de transformação no Brasil:

  • Fator multiplicador elevado: a cada R$ 1,00 produzido pela indústria de transformação, são gerados R$ 2,20 na economia. Em comparação, o setor de serviços gera R$ 0,50, e o agro, R$ 0,70, destacando a produtividade da indústria em impacto econômico.
  • Alta produtividade: a produtividade da indústria de transformação é 16% maior do que a média da economia, evidenciando sua eficiência em relação a outros setores.
  • Liderança em inovação: a indústria é responsável por 69% dos gastos totais em inovação no Brasil, superando até mesmo os investimentos realizados pelo governo.
  • Investimento em pesquisa e desenvolvimento: 67% dos gastos totais em pesquisa e desenvolvimento no Brasil vêm do setor industrial, reforçando seu papel estratégico no avanço tecnológico.
  • Salários competitivos: o salário médio pago pela indústria no Brasil é equivalente ao dos países desenvolvidos, mesmo em um cenário de alta carga tributária.