Luciene Petroni vê reforma como momento de oportunidade

"Temos que sair do modelo atual que não é transparente e que cria uma complexidade imensa para as empresas"
Head de tax do Carrefour, Luciene Petroni. Foto: Arquivo pessoal.
Head de tax Luciene Petroni. Foto: Arquivo pessoal

Por Regina Krauss

Luciene Petroni Castro Neves, head of Tax do Carrefour Varejo no Brasil e mentora de Lean Thinking e Tax Transformation, está há 19 anos na área tributária, sendo 8 deles no Carrefour. Sua experiência no setor permite uma visão estratégica sobre a mudança que está em curso no Brasil com a reforma tributária: “Nós estamos tendo a oportunidade de participar deste processo e deixar um modelo muito mais avançado e eficiente para o futuro”.

O Grupo Carrefour Brasil opera sob as marcas Carrefour e Atacadão, sendo este considerado o maior atacadista do Brasil. Após a aquisição do Grupo BIG, se tornou a maior empregadora privada do país. É considerada ainda a maior empresa do varejo alimentício no Brasil, segundo o Ranking Abras 2022. 

Um dos pontos mais problemáticos, segundo ela, é que o atual modelo exige da equipe um retrabalho enorme. 

Para ela, a reforma tributária em andamento é uma mudança necessária para simplificar o complexo sistema fiscal brasileiro. “Temos que sair do modelo atual que não é transparente e que cria uma complexidade imensa para as empresas”, afirma Luciene. Embora prefira um sistema de IVA único, ela reconhece que o modelo dual, que está sendo adotado, é o modelo possível para o Brasil neste momento. 

“É natural que haja uma desconfiança por parte dos profissionais e empresários porque é um modelo novo para todos e vai dar bastante  trabalho aprender”. No entanto, Luciene acredita que esta é oportunidade única para os profissionais. “Precisamos correr atrás de informação de qualidade, abrir a cabeça e contribuir para o aperfeiçoamento do sistema nos próximos anos”. 

No entanto, ressalta a profissional, a adaptação não será fácil. “Será necessário investir em tecnologia, nos sistemas fiscais e ERPs. Devemos ter novos arranjos nos times, tanto na área tributária e contábil quanto no setor jurídico, logístico, área de compras e precificação”. Segundo ela, para isso, precisa fazer o dever de casa e estudar.

Fornecedores

Um dos aspectos cruciais da reforma é a necessidade de fortalecimento das relações com fornecedores, especialmente os médios e pequenos que estão no Simples Nacional, defende Luciene. Esses fornecedores, em muitos casos, não possuem uma equipe tributária robusta e precisam de suporte para se adaptarem ao novo sistema. O grupo Carrefour tem mais de 2 milhões de clientes e registrou lucro líquido ajustado de R$ 151 milhões no segundo trimestre de 2024.

O impacto para a sociedade

A reforma tributária terá um impacto significativo tanto para as empresas quanto para os consumidores. Luciene acredita que a mudança no modelo de cobrança de impostos, onde o valor do imposto é destacado separadamente no preço final do produto, exigirá um grande esforço de comunicação e conscientização por parte do setor varejista. “Precisamos comunicar isso de uma maneira didática para o consumidor, que vai chegar na prateleira, ver um produto que custa R$ 10, por exemplo, e no ticket ao sair vai ver R$ 10 e mais R$ 2,50 de imposto”. 

Apesar dos desafios, Luciene vê a reforma como uma oportunidade para o Brasil. Ela acredita que, com o tempo, cidadãos e empresas terão mais consciência sobre todo o processo. “Nossa cultura deve se transformar, com os cidadãos tendo mais consciência do que compram, como compram, para onde vai o dinheiro dos seus impostos e como são utilizados”.

“Acredito que teremos um sistema tributário mais transparente e eficiente e eu, como brasileira, me sinto honrada em participar deste processo. Da minha parte, farei de tudo para dar certo”, finaliza Luciene.


Essa reportagem foi publicada com exclusividade na Revista da Reforma Tributária. Acesse a edição completa aqui (é gratuito)