JANUS, o deus da dualidade e a REFORMA TRIBUTÁRIA

Por Rene Ivan Ergueta Saracho

Janus (ou Jano) é uma divindade da mitologia romana associada a começos, transições e portas. Ele é frequentemente representado como tendo duas faces, uma voltada para o futuro e outra para o passado, simbolizando a dualidade do tempo e a possibilidade de mudança. Janus também é o deus das portas e das entradas, tanto físicas quanto metaforicas, e é invocado em momentos de novos começos, novos tempos.

As principais simbologias associadas a Janus incluem:

  • Transições: representa as mudanças e os novos começos na vida;
  • Dupla face: significa a percepção de diferentes possibilidades e tempos, refletindo tanto o que foi quanto o que está por vir;
  • Portas e entradas: simboliza a passagem de um estado ou condição para outro;
  • Ciclos do tempo: enfatiza a continuidade e a inevitabilidade do tempo em nossas vidas.

Como uma divindade importante no calendário romano, Janus era celebrado no início do ano (em janeiro), reforçando seu papel como guardião de novos começos.

Janus é o deus da dualidade. Dualidade refere-se à presença de duas partes ou aspectos que são opostos ou complementares entre si. Esse conceito é amplamente utilizado em diversas áreas do conhecimento, como filosofia, ciência, psicologia e artes, e geralmente descreve a coexistência de opostos, que pode gerar um equilíbrio dinâmico. A dualidade é um conceito rico e multifacetado que nos ajuda a entender e interpretar o mundo ao nosso redor. Ela nos permite reconhecer que muitos fenômenos e experiências são influenciados por forças opostas, e essa interação pode gerar novas compreensões e significados.

REFORMA TRIBUTÁRIA e CIÊNCIA DE DADOS ou

REFORMA DE DADOS e CIÊNCIA TRIBUTÁRIA

E por falar em novos começos, novos tempos e transições, vem aí a nossa tão falada Reforma Tributária. Nesse aspecto, pelo andar da carruagem, é uma reforma que certamente faria arrepiar até os pêlos de nossa divindade, o Janus

Arrepios à parte, nos resta parar, respirar, planejar e agir.

Nesse sentido, tenho visto e ouvido uma série de iniciativas – todas elas de grande valor, compartilhadas em reuniões, eventos, leituras e podcasts. Pela densidade e relevância, existe uma ampla cobertura sobre este tema, tratando dos impactos – que não são poucos, sobre as nossas operações, nossa economia e nosso país.

Nesse contexto, o propósito deste artigo é trazer para o leitor uma visão que reforça a ideia de que duas ciências aparentemente opostas podem coexistir e gerar um equilíbrio dinâmico, que podem ser de fato complementares, especialmente, quando o tema é Reforma Tributária.

A ciência de dados tem se tornado uma ferramenta cada vez mais valiosa na área tributária, especialmente neste momento crítico, trazendo diversas vantagens que aprimoram a eficiência, a produtividade, a conformidade e a tomada de decisões. Por exemplo:

  • Podemos analisar as tendências e a previsão do novo comportamento tributário. Nos ajuda a identificar padrões nos dados que podem indicar ineficiências, permitindo ações preventivas; 
  • Técnicas de machine learning podem ser aplicadas para detectar anomalias e atividades e/ou conclusões irregulares do novo sistema através de grandes volumes de dados;
  • A automação baseada em dados pode simplificar processos complexos, reduzindo o tempo e os recursos necessários para a coleta e análise das novas informações fiscais, além de melhorar a precisão dos dados;
  • Com a análise de dados, as empresas podem obter insights sobre sua nova posição fiscal diante da Reforma, permitindo uma gestão tributária mais estratégica e informada. Isso pode incluir decisões sobre deduções fiscais, planejamento tributário e conformidade;
  • Ferramentas de ciência de dados permitem a criação de relatórios dinâmicos e dashboards que facilitam a visualização e a comunicação dos impactos futuros, tornando mais fácil para as partes interessadas entenderem e interpretarem os dados; e 
  • Auxilia na conformidade com as novas regulamentações tributárias ao garantir que as informações estejam corretas e dentro dos padrões exigidos, reduzindo o risco de penas e multas.

Assim, no atual contexto da Reforma, a ciência de dados pode ser usada para a simulação de cenários com as mudanças em curso, ajudando a identificar e interpretar as causas e consequências de sua aplicação, auxiliando nas decisões e, em muitos casos, a reformular políticas internas mais eficazes.

Costumo falar que, no que tange à Reforma Tributária, tratamos muito mais de uma reforma de dados aplicada sob a ciência tributária. Isto porque, no fim, do ponto de vista prático, é isso que ocorre. Falamos da substituição de uma carga tributária atual (CTA) por uma carga tributária nova (CTN). Essa mudança é aplicada tanto para nossas operações up-stream – a precificação de nossos produtos e serviços, como down-stream, toda nossa cadeia de suprimentos. Por óbvio, a complexidade é ainda maior, mas sob a ótica dos dados, parte da mudança é essa. 

Isso reforça a importância da ciência de dados aplicada à área tributária, investir recursos na construção de uma sólida base de dados tributários é um dos caminhos. 

Por fim, não esqueça, a Reforma Tributária e a Ciência de Dados não serão absolutamente nada sem as pessoas. Um dos principais pilares deve ser o foco nas pessoas e no desenvolvimento de suas capacidades. Juntamente com as novas habilidades relacionadas à tecnologia, as capacidades em áreas cognitivas como a comunicação, negociação e gestão de mudanças são essenciais. A chamada capacitação horizontal também é um diferencial, isto é, ter um entendimento de frameworks, conceitos e modelos de negócio de outras áreas que podem perfeitamente ser adaptadas à área tributária. 

Lembre-se, a Reforma Tributária não é um projeto, é uma jornada.

Uma ótima jornada a todos e que o deus Janus esteja conosco. Amém!


Rene Ivan E. Saracho é Head Of Tax do Grupo EspaçoLaser. Profissional de negócios com conhecimentos tributários e apaixonado por tecnologia. Master of Business Administration, Warwick Business School, UK; Master’s Degree in Taxation, FGVLaw. Bacharel em Direito, Uniban. Bacharel em Administração de Empresas, Unip


Os artigos escritos pelos “colunistas” não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.