Entenda o panorama da indústria de manufatura em 2025

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Por Marcela Guizo

De acordo com uma recente pesquisa publicada pela Deloitte (20/11/2024), em 2024, a indústria enfrentou um cenário desafiador, marcado por taxas de juros elevadas e um ambiente de negócios complexo. Apesar dessas dificuldades, os investimentos no setor permaneceram expressivos. O Índice de Gerentes de Compras (PMI) indicou crescimento no início do ano, mas voltou a apresentar retração em julho devido à queda na demanda. Embora a inflação tenha desacelerado, os custos de produção seguiram altos. O mercado de trabalho mostrou sinais de estabilização, mas a captação e retenção de talentos continuam sendo um obstáculo. As cadeias de suprimentos melhoraram, porém ainda operam abaixo dos níveis pré-pandemia. Além disso, os investimentos em tecnologia limpa e na construção de novas instalações e/ou expansão de instalações existentes prosseguiram, embora em um ritmo mais lento. Ou seja, o ritmo de crescimento anual decaiu de 41,3% em setembro de 2023 para 20,5% em setembro de 2024. 

Para 2025, a indústria deve continuar enfrentando um ambiente de negócios instável, influenciado pelo aumento dos custos, potenciais mudanças nas políticas econômicas após as eleições nos Estados Unidos e em outras regiões do mundo, além das persistentes incertezas geopolíticas que afetam o setor.

Segundo essa pesquisa, algumas tendências serão fundamentais para guiar as decisões estratégicas dos líderes da indústria em 2025. Entre os principais temas a serem monitorados com atenção estão:

  • Gestão de talentos: Preparar-se para uma demanda renovada e desenvolver uma estratégia sustentável de força de trabalho a longo prazo;
  • Inteligência artificial e IA generativa na manufatura: Focar investimentos em soluções que ofereçam alto retorno sobre o investimento (ROI), garantindo maior eficiência e inovação;
  • Cadeia de suprimentos: Adotar medidas ágeis e eficazes para lidar com interrupções e custos elevados, garantindo maior resiliência operacional;
  • Smart operations: Estruturar uma base sólida para gerir operações inteligentes, priorizando projetos que agreguem alto valor ao negócio;
  • Fabricação com tecnologia limpa: Avançar estrategicamente na adoção de soluções sustentáveis, mesmo diante de um cenário incerto.

Enfrentando desafios conhecidos em 2025 com inovação direcionada

A indústria de manufatura deve enfrentar, em 2025, desafios já conhecidos, como oscilações na demanda, pressões sobre a cadeia de suprimentos e a necessidade contínua de modernização. No entanto, novas ferramentas e abordagens podem ser aproveitadas para aumentar a eficiência, fortalecer a resiliência e preparar o setor para um possível ciclo de expansão. Segundo previsões otimistas da Deloitte, o aumento da produtividade e o crescimento acelerados do PIB nos próximos anos podem ser impulsionados por investimentos estratégicos em tecnologia.

Para se manterem competitivos e assumirem um papel de liderança no mercado, os fabricantes devem priorizar investimentos direcionados em tecnologia digital, dados e automação. Algumas das principais iniciativas incluem:

  • Gestão avançada de talentos: Uso de ferramentas para planejar e gerenciar habilidades, melhorando a retenção de profissionais e preparando a força de trabalho para o futuro.
  • Inteligência artificial e IA generativa: Aplicação de IA para aprimorar o atendimento ao cliente, reter o conhecimento de profissionais aposentados e acelerar o lançamento de novos produtos.
  • Digitalização da cadeia de suprimentos: Utilização de IA e análise avançada para simulação da cadeia de valor e otimização da logística.
  • Operações inteligentes: Aplicação de realidade estendida (XR) para treinamento de equipes e suporte técnico mais eficiente.
  • Colaboração digital e sustentabilidade: Uso de tecnologias inovadoras, como model-based enterprise, para facilitar parcerias estratégicas e viabilizar a produção de bens de baixa emissão.

Desafios Adicionais no Cenário Brasileiro

E implementação da RT, a partir da publicação da Lei Complementar (LC) nº 214/2025, em 16 de janeiro de 2025, sanção do Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 68/2024, que regulamenta a Reforma Tributária (RT) sobre o consumo, conforme estabelecido na Emenda Constitucional (EC) nº 132/2023, adiciona uma camada extra de complexidade ao cenário da indústria de manufatura. Com a coexistência de dois sistemas tributários durante o período de transição, as empresas precisarão lidar com desafios como:

  • Revisão da cadeia de valor: A nova estrutura tributária pode impactar a formação de preços, a elasticidade da demanda e as margens de fornecedores e clientes, exigindo ajustes estratégicos;
  • Readequação de processos e tecnologia: A adaptação ao novo modelo de tributação demanda investimentos em tecnologia para garantir conformidade e eficiência operacional e tributária;
  • Gestão de riscos e custos: as empresas precisarão revisar seus investimentos e planejamento financeiro devido às mudanças nos incentivos fiscais e nas regras de aproveitamento de créditos tributários com a reforma tributária;
  • Integração de dados e inteligência fiscal: O uso de IA e análise preliminares pode ser um diferencial para empresas que buscam antecipar impactos e transformar a reforma tributária em vantagem competitiva.

A modernização da indústria exige uma abordagem ampla, combinando inovação tecnológica, adaptação regulatória e planejamento estratégico. Aquelas empresas que conseguirem integrar essas frentes terão melhores condições de superar os desafios e capitalizar as oportunidades trazidas pelas transformações em curso.


Marcela Guizo é tributarista com mais de 12 anos de experiência na área fiscal e tributária. Passou por PwC e participa do Mulheres no Tributário. Graduada em Ciências Contábeis, possui MBA em Gestão de Negócios pela USP/Esalq e MBA em Big Data & Analytics pela FIAP.


Os artigos escritos pelos “colunistas” não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.