12 pontos que ninguém está falando sobre a reforma tributária

A mudança fiscal vai muito além do IVA e afeta preços, modelos comerciais, fornecedores e contratos

Por Regina Krauss

A isenção da carne, o imposto do pecado e a alíquota-padrão do IVA ocuparam o debate nacional em torno da reforma nos últimos meses. Porém, a aprovação da Emenda Constitucional 132/2023 e projetos complementares impactará a realidade das empresas desde o processo de compra de produtos até a gestão de contratos e sistemas.

A Revista ouviu a CFO da ROIT, Caroline Souza, e listou 12 pontos que merecem atenção e que podem ajudar você a sair na frente já nos próximos meses:

1. Necessidade de caixa

Com a aprovação de novas regras fiscais e mudança do modelo de tributação, as empresas devem analisar se vão precisar desembolsar mais nos próximos anos e onde será necessário preciso mais investimento. 

Portanto, é fundamental a preparação do capital de giro e tudo que está ao seu redor, para obter crédito com o menor custo possível. As mudanças tributárias alteram a composição dos preços de compras e vão exigir um desembolso maior de caixa nas aquisições. Antecipar essa necessidade e planejar com antecedência pode evitar surpresas desagradáveis. Além disso, considere a possibilidade de buscar novas linhas de crédito, ajustar as reservas financeiras e, principalmente, repensar o ciclo de conversão de caixa, ampliando o prazo de pagamento a fornecedores e reduzindo o prazo de recebimento com clientes.

2. Preços de compra

Ao analisar todos os produtos e serviços que a empresa oferece e ainda todos os contratos já fechados, uma série de estratégias podem ser colocadas em prática. Em cada caso, as empresas devem pensar se vale a pena. Por exemplo: congelar contratos para os próximos anos; comprar agora ou depois de 2027 novos equipamentos ou veículos; e sempre analisar a compra de matérias-primas já calculando a diferença entre a tributação atual e a futura.  

3. Preços de venda

É verdade que a definição das alíquotas do IVA é um dos pilares para a efetividade da reforma, impactando diretamente a carga tributária das empresas e, consequentemente, os preços de compra e de venda. As leis complementares ainda estão em discussão, mas já é possível medir os impactos e traçar estratégias considerando uma alíquota provável entre 25% e 33% (a ROIT estima 30,3%, a propósito). Adequar os preços de venda será um desafio adicional. Seu time comercial precisará estar bem preparado para explicar as mudanças aos clientes e ajustar as estratégias de venda conforme necessário. Treinamentos e workshops internos podem ser uma boa pedida para garantir que todos estejam na mesma página e prontos para lidar com as novas exigências.

4. Margem

Com as possíveis mudanças tributárias pós-reforma, pode ser mais vantajoso ajustar as margens de produção em vez de continuar vendendo com margens negativas. Uma estratégia eficaz é aplicar a análise da curva ABC. Se a sua empresa tem 300 produtos, identifique quais 30 deles representam 80% do seu resultado. Concentre-se nesses produtos e desenvolva estratégias específicas para garantir que eles continuem sendo rentáveis.

5. Momento ideal para investir

Existem diversas estratégias que podem ser consideradas. É essencial analisar cada uma delas cuidadosamente com base nas necessidades e objetivos da sua empresa. Por exemplo, vale a pena questionar se é mais vantajoso adquirir uma frota de caminhões agora ou esperar até 2027. Também é relevante avaliar se continuar alugando é a melhor opção, ou se seria mais interessante optar por leasing ou comprar veículos diretamente. 

6. Novos modelos comerciais

É essencial avaliar se o seu atual modelo de distribuição ainda faz sentido ou se seria mais eficaz intensificar o foco no e-commerce. Analise seu público-alvo e as tendências de consumo para decidir qual estratégia melhor atende às necessidades do seu negócio, garantindo maior alcance e rentabilidade.

7. Melhorias operacionais

É crucial entender o perfil dos seus fornecedores e identificar quem oferece ou não créditos. Analisar os intermediários na cadeia de suprimentos, como os distribuidores, pode revelar oportunidades para otimizar processos e reduzir custos. 

8. Renegociação de contratos

Os contratos de longo prazo, em especial, sentirão os impactos da reforma. É importante garantir que os termos sejam atualizados para refletir as novas realidades tributárias. Revisar esses acordos pode ser trabalhoso, mas pense nisso como uma oportunidade para fortalecer relações comerciais e ajustar preços de maneira estratégica.

9. Perfil tributário dos fornecedores

Com a análise do perfil dos fornecedores é possível saber se vale à pena continuar comprando das mesmas empresas ou não. Muitas empresas do Simples Nacional ou MEIs não vão gerar créditos de IBS e CBS, por exemplo. Isso significa que muitos desses fornecedores precisarão de um empurrão para se adaptarem. Eles vão precisar implementar uma cultura de gestão eficaz, adotar sistemas de ERP e colocar a contabilidade em dia. Caso contrário, pode ser mais vantajoso trocar de fornecedor. 

10. Produtos e serviços mais afetados

Cada empresa terá que mensurar quais produtos ou serviços por ela serão mais impactados pela reforma e se compensa continuar comercializando aqueles produtos, considerando, por exemplo, isenção, alíquota zero de IVA, créditos a serem compensados, fim dos incentivos fiscais. Pode-se pensar ainda quais serão os impactos se houver incidência do Imposto Seletivo em matérias-primas? O IPI terá alíquota zero ou manterá as alíquotas atuais em razão da Zona Franca de Manaus?

11. Fim de intermediários

Muitos setores, como grandes indústrias, têm utilizado estratégias tributárias clássicas, como a quebra de cadeia tributária, para otimizar os custos. No entanto, com as mudanças previstas na reforma, essas estratégias podem perder a eficácia. Por isso, é crucial reavaliar a função dos intermediários, como distribuidores e concessionárias. 

12. Mudanças de ERPs

A reforma trará também a necessidade de mudanças e revisões nos ERPs utilizados pelas organizações para gerenciar atividades de negócios diárias, como contabilidade, compras, gerenciamento de projeto, gerenciamento de risco e conformidade, e operações da cadeia de suprimentos. Para garantir a apuração correta dos impostos e  conformidade com a legislação, as empresas e escritórios precisam reavaliar as soluções tecnológicas que têm à mão. Além disso, será preciso conviver com dois sistemas paralelos que irão coexistir de 2026 a 2033.


Essa reportagem foi publicada com exclusividade na Revista da Reforma Tributária. Acesse a edição completa aqui (é gratuito)